29. Não me parece nada humilde aquela frase: ”ninguém vai ao Pai senão, através de mim”...
Usar um trecho de um texto, sem entender o contexto, é mais do que um desleixo. É um desrespeito.
Já se esqueceu das seguintes palavras de Jesus: “Não julgueis para não serdes julgados...”?
Mesmo com as inúmeras traduções, revisões e omissões das escrituras ao longo de séculos, não é difícil perceber que Jesus não falava de si mesmo. Ele mesmo justificou-se por ensinar através de parábolas – Ele sabia que temas abstratos e de profundidade intelectual, deveriam ser levados à reflexão por cada ouvinte. Que instrumento mais belo e simples para ensinar sobre a Criação de Deus, do que histórias - cujo conteúdo adequava-se a realidade da época vigente e a simplicidade do povo que vinha de longe, apenas para ouvir.
Inúmeras foram às vezes que Jesus chamou a atenção das suas palavras: “Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado essa o julgará no último dia. Porque eu não falei por mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, esse me deu mandamento quanto ao que dizer e como falar”. A frase que você citou, não foi um arroubo de vaidade de Jesus, alias, faz parte de um assunto que já havia sido respondido.
Lembra quando disse: “cada um traça o seu próprio caminho – afinal, não é a ordem dos caminhos que importa, e sim, o que se faz em cada caminho”. Agora vamos a Jesus quando Ele disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. E para onde eu vos vou conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. Ou pelo caminho Dele (perdão, amor ao próximo e caridade), se preferir...
30. E que caminho é esse?
Todo caminho percorrido cujas atitudes não afligem a consciência de quem o pratica, nem a de teu semelhante, é o verdadeiro caminho.
31. Como posso saber se o que estou fazendo, de alguma forma pode afligir o meu semelhante, se nem eu mesmo me conheço o suficiente?
Tudo na natureza evolui através da somatória das escolhas. Não se trata de um jogo de certo e errado; o livre-arbítrio associado aos princípios e educação pessoal dará a cada escolha, a autoconsciência de percorrer mais próximo ao verdadeiro caminho, ou mais longe – a dor e o sofrimento são apenas “sensores de reflexão” que sinalizam a interdependência do que fizer com o que cada semelhante teu faz; ninguém evolui em detrimento de outrem, mas todos (de alguma forma) estão evoluindo pelo que possuem em comum, mesmo que não estejam conscientes de suas afinidades. Não lhe falei que tudo já existe em perfeição e harmonia? , e o que é a evolução senão, a gradual autoconsciência desta harmonia, galgada por cada um em seus respectivos esforços de compreender a ti mesmo, e o teu semelhante.
32. Em outras palavras: terei que descobrir por mim mesmo...
Nada melhor do que citar um profundo pensamento de Albert Einstein:
“O sentimento mais jubiloso que podemos experimentar é o de mistério. Ele constitui a emoção fundamental que se faz presente no berço da verdadeira ciência. Aquele que não o conhece, que não é mais capaz de se maravilhar, de sentir admiração, está praticamente morto”.
33. A vida é tão cheia de mistérios, que parece que Deus não quer que descubramos as respostas, apesar dos nossos esforços, pois, a cada resposta encontrada, surgem mais perguntas... Qual é o propósito disto?
Deus não dificulta a compreensão da vida, mas sim, o próprio ser humano. Pois este se esquece de contemplar a simplicidade da natureza, e o silencio dos teus pensamentos, onde repousam todas as respostas - em que o Eu de cada um serve em conformidade com a atenção, liberdade e intimidade que recebe.
34. Ou seja, somos culpados da nossa própria ignorância?
Pelo contrário. Sois abençoados por discernir a existência da ignorância no âmago de vossas mentes. Todos, em algum grau, são ignorantes a respeito de algo (não importa o que, nem quanto), pois esta autoconsciência de carência de conhecimento é o que faz todos não se acomodarem e assim, evoluírem...
35. Contudo, parece mais um jogo de adivinhação em que Deus colocou a humanidade num imenso labirinto, e milhões esbarram-se em todas as direções, tentando encontrar o verdadeiro caminho. Já que todos vão chegar ao paraíso, mais cedo ou mais tarde.
Já disse que o paraíso não é um lugar, mas, um estado de autoconsciência que deve ser conquistado (e vai, pode ter certeza!). Se Deus quisesse fazer da vida, um jogo de adivinhação, a consciência de Sua existência (ou de uma causa maior) nem existiria na mente humana; todos pensariam que tudo é obra do acaso, e que tudo o que há, tem sua vida própria e aleatória. Já parou pra pensar em como o ser humano seria pateta, sem a noção de Algo maior por detrás de tudo?
36. Mas a vida parece um caos: todos querem impor suas ideias sobre a de outros, uma guerra infindável entre o certo e o errado; a ciência vive em luta contra a religião, e ambas vivem em luta com a ética e a moral, e que também não se entendem com os políticos e governantes, que por sua vez, vendem-se diante de interesses econômicos, frustrando as promessas feitas aos seus eleitores. Resumindo: que nó difícil de desatar?
Apesar da tua visão sombria, o que mantém as pessoas neste estado de conflito, é a sua inércia mental – o livre-arbítrio é como um canivete suíço que pode ser usado para auxiliar nas mais diversas necessidades. O ser humano se acomoda com muita facilidade quando está bem, e apenas sai desta inércia quando algo o incomoda pessoalmente (na verdade esta é uma atitude bem egoísta). Existe uma vida que depende da coexistência de ideias de todos, sobre todos.
Há séculos atrás, esta dificuldade até seria compreensível, pois as ideias apenas eram compartilhadas através de mensageiros a cavalo. Hoje há a Internet, TV, telefone, rádio, etc. o que existe ainda, é a falta de uma consciência coletiva: os políticos só fazem o que fazem, porque não há pressão do seu eleitorado e dos empresários que são induzidos a financiá-los em troca de menos impostos e licitações, o que faz os governantes diminuir os conflitos sociais, fazendo com que a ética e a moral fiquem restritas à reflexão filosófica, no lugar do que é realmente benéfico à humanidade, como um todo.
37. Se for tão simples assim, por que não acontece?
Mas, acontece. É um processo de aprendizado silencioso, que está tomando cada vez mais força em todo o planeta. Um exemplo claro é as inúmeras organizações e voluntários dispostos a retomar a saúde do planeta Terra, que havia sido negligenciada nas desenfreadas competições militares, políticas e financeiras de inúmeros governos (extintos e atuais); outras frentes (não menos importantes), encabeçam movimentos em prol da pesquisa e cura de doenças, assim como, o esforço internacional para diminuir o sofrimento e a fome de milhões de pessoas no mundo. Se parar um pouco e refletir, perceberá que humanidade evoluiu no século XX, muito mais do que nos últimos 70.000 anos. Digamos que a evolução humana esta galgando a sua própria “pré-adolescência”.
38. Somos tão imaturos assim?
Não disse isto. A humanidade já dispõe de um enorme conhecimento tecnológico e científico; veja-a como um pré-adolescente, cheio de vitalidade, coragem, disposição, ansiedade, vaidade, insegurança, duvidas, etc... mas que não tem certeza do que quer ser, que caminho tomar e com quem vai querer compartilhar a sua intimidade – seja o melhor ou pior estudante, rico ou pobre, viva num país de 1º ou 3º mundo. Esta sensação silenciosa de angustia e solidão serão temporárias, mas necessária para definir o teu papel na vida.
Assim como não é justo julgar uma pessoa isoladamente sem levar em consideração o seu meio ambiente (família, colegas, cultura, religiosidade, etc.), também não é justo julgar a humanidade, pelas atitudes isoladas de poucos. Cada nação, estado, cidade, bairro, rua, vila, casa, tem uma identidade própria. As pessoas não mudam de lugar simplesmente para ganhar mais, mas porque sabem que onde estão não lhes completam o suficiente, e que há mais pessoas para se relacionar, aprender e realizar-se junto a elas (e graças a elas).
Todos precisam uns dos outros, para amadurecer e evoluir, ninguém cresce sozinho. Na verdade, não há evolução pessoal; quando você evolui, alguém também evoluiu e vice-versa (mesmo que você não se de conta disto); o ser humano sempre continuara evoluindo pelas atitudes “positivas” ou “negativas” de teu semelhante. Já se esqueceu da lei de causa e efeito?
39. Então existe algum tipo de evolução pessoal em escolher uma religião entre tantas?
Sim, mas não pela religião escolhida, e sim pelos motivos pessoais. Muitas pessoas estão de certa forma, compartilhando um mesmo nível de evolução, mas, pertencendo (ou não) a ordens religiosas diferentes.
40. Quer dizer que tanto faz se eu sou judeu, mulçumano, cristão, espírita, budista, etc.?
Sim, com relação a ser, mas não com relação ao que faz sendo o que é. Afinal, em que de melhor uma pessoa se torna ao castigar e até matar teu semelhante, em nome da tua religião?
Se o Criador quisesse punir alguém, por que deu aos seus filhos o livre-arbítrio? Amar o Criador e venerá-lo é natural, pois todos são expressões viva Dele. Não há como amá-lo verdadeiramente, sem amar o teu semelhante. O Criador jamais impôs um amor igualitário a todos; cada um deve amar dentro do que pode e o quanto pode, o que importa é amar! Esse amar vai além de amar ao próximo, mas cada ser vivo, cada coisa no universo, cada ciência, cada religião, cada filosofia, cada literatura, cada melodia... Assim como não se aprende a correr, sem engatinhar, também não se aprende a amar tudo e todos, sem quedas e tropeços.
41. Certo. Mas como é que se concilia a ciência e a religião nesse amor?
Na verdade, elas são mais unidas do que parecem ser...
42. Unidas? A ciência vive com “os pés na terra” e a religião com “os pés na espiritualidade”, como eu posso unir a geometria ou física quântica nas questões de fé e, as orações e livros sagrados nos tratados científicos?
Na verdade sempre pôde. Enquanto não perceberes que a “diferença” entre elas está mais nas pessoas envolvidas com elas do que nas suas naturezas. Vou tentar ser simples:
A fé (embora muito explorada), não tem necessariamente natureza religiosa, mas tem haver com confiança. Um cientista busca por essa fé nas suas pesquisas (ele pode ainda não ter comprovado um determinado principio, mas sabe que está no caminho certo; a sua fé está baseada nas evidencias que ele dispõe; tal como uma equação, ele sabe que uma variável tem um valor – não importa qual – mas ela existe, mesmo que a equação não esteja completa). Os livros sagrados (sejam quais forem), também não têm necessariamente natureza religiosa, mas fundamentalmente literária. Há diversas ciências envolvidas como a linguística, história, política, filosofia, geografia, arquitetura, direito, sociologia, arqueologia, matemática (todo idioma é fundamentado em princípios matemáticos usado pela cultura de um povo em questão), etc.
Ou seja, antes de começar a escrever um “texto sagrado”, foi necessário um mínimo de conhecimento científico, (como a escrita); a compreensão dos hábitos e costumes do povo em questão (como a noção das leis vigentes, da geografia do lugar que se escreve, do idioma que usa para produzir o texto a fim de atingir um povo ou cultura especifica); a narrativa do texto deveria se adaptar ao tipo ideia a ser divulgada: normativas (em forma de leis); filosóficas (conceitos de pureza e perfeição, parábolas e simbolismos); biográficas (relatando a vida e caráter do povo ou personagem em questão); políticas (ressaltando acordos, guerras e domínios); geográficos (descrevendo continentes, rios, fenômenos metrológicos e etc.); biológicos (referente à linhagem hereditária, pragas e doenças); astronômicas (calendários, referências a constelações, planetas e cometas); matemáticas (compreensão de sistemas de numeração, proporção, moedas, pesos e medidas.
Há muitos anos tanto religiosos e cientistas sabem que, muitos “fenômenos espirituais”, na verdade eram neuropatias (tumor cerebral, esclerose, epilepsia, sonambulismo, estresse e AVC), endopatias (disfunção/hiper função ou tumor nas principais glândulas como tireoide, pituitária, pineal, suprarrenais), isto sem contar as inúmeras viroses desconhecidas à época dos povos antigos, e que muitos fenômenos “espirituais”, na verdade são expressões da mente subconsciente que detém boa parte da Mente Divina.
Ou seja, enquanto a ciência não fizer a distinção de cérebro e mente, não compreenderá que o cérebro é apenas um órgão e a mente é muito mais do que as atividades neurológicas; sem contar que mente e pensamento não é a mesma coisa como muitos pensam.
Enquanto os religiosos se apegam a salvação através das suas liturgias e os cientistas perscrutam universo afora atrás de respostas para a origem do mesmo e o seu destino, ambos esquecem-se do mais simples, precioso e importante: o próprio ser humano.
Sócrates já havia dito: “- Conhece-te a ti mesmo, e conheceras o universo e os deuses”; mais tarde, Jesus disse: “- O Reino dos Céus está dentro de vós”.
A chave para entender chama-se: Reflexão.
(continua)
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