sábado, 9 de agosto de 2014

Misticismo (por que é um dos tópicos deste blog?) - Atualizado em 21-Mar-17



    Eu sempre vou fazer questão de esclarecer o porquê eu uso algum termo que ao meu ver ainda parece ser dado muitas definições ao mesmo e por isso, para o conteúdo não parecer confuso ou desconexo, eu prefiro então "colocar os pingos nos Is".

    É mais do que natural, que muitos interpretem a palavra misticismo como uma forma de religião, um culto, uma espécie de vida monástica, uma forma de filosofia religiosa ou até alguma outra coisa que ainda nem tenha me passado pela cabeça.

    Enfim, na minha concepção eu vejo o misticismo como o estudo do ser humano e das leis da natureza, assim como a relação íntima que há entre ambos. É claro que você quer saber o por quê.

    Mas antes, eu fui então procurar na Wikipédia (tenho certeza que a maioria vai fazer isso), e encontrei ali um pequeno parágrafo que diz: "Por definição natural, misticismo é a prática, estudo e aplicação das leis que unem o homem à Natureza e a Deus.". Acredito que a minha "definição" de misticismo não está tão longe de um consenso...

    Tudo bem, desde criança o meu quarto sempre foi a biblioteca da família e o laboratório científico do meu pai, então ficar de castigo, não era tão ruim assim, pois eu tinha muita coisa para me entreter, e a leitura era a principal delas.

   Quando tinha 15 anos, falei com a minha mãe que queria dar um tempo nos estudo, pois eu estava ainda muito confuso sobre o que eu deveria ser ou me tornar no futuro, e precisava de respostas pois eu não conseguia me "encaixar" no mundo que eu estava vivendo e no planeta que os povos de inúmeras nações pareciam não se entenderem.

    Costumava (assim como hoje), ler todos os dias os jornais e os assuntos como política nacional/internacional, polícia, economia, etc. Também somava o noticiário na televisão e documentários.

    Mas era dos livros que eu mais gostava, "devorava" as duas enormes enciclopédias e uma infinidade de livros... Percebi então que, se eu quisesse "entender" o mundo, eu teria que conhecer a sua história, seus povos, suas criações, suas diferenças, suas lendas, suas, crenças.

    Quanto a minha mãe, é claro que não quis saber das minhas dúvidas, matriculou-me em um colégio caro da época e ponto final. Mas eu lha adverti: "- mãe, a senhora vai jogar esse dinheiro fora, eu só estou pedindo apenas um 'tempinho' para colocar as minhas ideias em ordem". Ela apenas respondeu: "- coloca em ordem depois que terminares os teus estudos!".

     É claro que eu entendia o amor dela em me assegurar um bom estudo, mas naquela época, parecia que uma "janela" havia aberto na minha mente uma série de perguntas mesclado a uma série de observações que parecia mostrar-me que a humanidade era muito mais do que parecia ser; o planeta Terra era muito mais do que uma morada de seres e paradoxalmente era muito pouco em se tratando de seres inteligentes e autoconscientes, como nós seres humanos.

    Se nós já temos aqui tudo o que precisamos, por que há todo um vasto Universo afora? Ou seria esse vasto Universo necessário (como uma gigantesca engrenagem) para propiciar a vida na Terra?

    Nossa pequenez é tão valiosa assim, ou sentimo-nos pequenos por não darmos o valor a todo esse conjunto extraordinário criado por alguém que parece ter um enorme amor por todos nós para fazer tanto, por tão pouco que somos.




    Seríamos mais do que aparentamos somos? Seria esta última a origem de tantas religiões, filosofias e credos? Mas se esta fosse realmente a finalidade última, por que esta não aproxima cada vez mais a humanidade como um todo ao invés de apenas causar guerras, dor, desordem e diferenças?

    Talvez para o leitor seja fácil responder, mas não quando você tem 15 anos e consegue num "insight" contemplar (ainda que breve), que a humanidade parece caminhar meio ás cegas, mesmo rodeada de tanto conhecimento e tecnologia.

    A minha grande dúvida nesta época era por onde eu devia começar a procurar. Acredito que passei mais tempo olhando a enorme estante repleta de livros e cheio de dúvidas, pois não sabia se era começando com livros de astronomia ou história; ou deveria começar por filosofia e religião; havia também muito material sobre energia, magnetismo e até um livro de psicologia que a minha mãe usava (ela era professora na época).

    O problema de começar uma pesquisa por determinada área do conhecimento humano, é a de que você pode-se prender tanto naquela área, que acaba por ignorar outras áreas de conhecimento que também são relevantes. Então, a exemplo de meu pai, comecei desenhando um organograma de forma que eu não me perdesse no meio das minhas pesquisas e não colocasse em prioridade nenhuma área do conhecimento em detrimento de outras.

    Também acrescentei algumas pesquisas in loco, pois deter-me apenas nas literaturas era restringir demais a fonte de pesquisa, precisava também, conversar com quantas pessoas pudesse e de todas as áreas de conhecimento que pudesse encontrar. Graças ao interesse científico do meu pai e a vasta experiência de magistério da minha mãe, não tive dificuldades em entrevistar pessoas das mais variadas áreas da ciência (muitas conheci acompanhando os meus pais) e de vez em quando, encontrava-as pelas ruas de Belém.

    Eu as entrevistava dizendo que estava fazendo um trabalho da escola e que a pesquisa tinha que ser a mais espontânea possível e sem a interferência de opiniões pessoais da própria família. Estes argumentos deixavam as pessoas mais á vontade para falar (e como falavam!). por isso tive que recorrer a algo já muito familiar no meu mundo da eletrônica. Um gravador cassete.



    Era exatamente um gravador desse que eu utilizava para coletar todas as opiniões e informações necessárias para a minha pesquisa.

    Só eu sei o quanto a minha adolescência foi diferente dos meus colegas, pois eles viviam perguntando por onde eu andava...

    Sem perceber, esta minha busca particular apenas fortalecia a ideia que eu tinha: De que todas as pessoas procuram pelas mesmas coisas, pelos mesmo valores, mesmo que de forma confusa e meio errante. Porém elas não param para refletir sobre o que procuram, nem parecem querer analisar outras fontes às suas buscas. Apenas limitam-se no que parece ser "confortável" de aceitar, fazendo deste hábito uma armadilha para uma mente frágil, facilmente sugestionável por outrem.

    Jamais questionei a veracidade das palavras proferidas pela pessoa que eu entrevistava, pois se eu realmente a quisesse compreendê-la deveria ser neutro, imparcial e deixar de lado momentaneamente o que já sabia, pois não estava lá para julgar ou "medir" conhecimentos, mas para entender o que pensavam e porquê pensavam daquela forma.

    Não creio que perdi alguma coisa da minha adolescência fazendo estas pesquisas, pelo contrário, até porque era tudo bem planejado. Só posso afirmar que essa pesquisa terminou em 1979.

    Até lá eu já tinha feito centenas de gravações, como eu apenas tinha uma fita cassete, era necessário transcrever de forma concisa e objetiva para analisar com outros depoimentos e confrontá-los (sempre que possível) à alguma literatura pertinente ao assunto. Na verdade o que dava trabalho era transcrever (escrever à mão nunca foi o meu forte).

    Houve época em que eu me questionava se tudo isso ia ter algum fim, pois quanto mais respostas eu tinha, mais perguntas eu fazia... Eu até mesmo questionei a minha sanidade, pois eu não tinha namorada, não saia para jogar bola (e olha que pretendentes e convites não faltavam), mas eu não estava afim daquelas conversas triviais, eu queria dar um sossego àquela ânsia que incomodava o fundo do meu ser: "Quem eu sou?, o que faço aqui?, o que tenho para saber?, para onde vou? e por que?".




    Deixei para o fim desta pesquisa o aspecto religioso, visitei e frequentei os mais diversos templos das religiões mais conhecidas, ou seja, além das inúmeras igrejas católicas e evangélicas (todas), frequentei sinagogas, mesquitas, templos hinduísta e budista, terreiros de candomblé, xintoísmo, seicho-no-ie, hare-krishna e centros espiritas, etc (eu sei que tem mais, mas não me lembro agora).

    E também somam-se outras formas de cultura como tai-chi-chuan, yoga, além de praticar o Wushu (Shaolin Quan),  vulgarmente conhecido como Kung-Fu, Karatê-Do e um pouco de Jiu-jitsu e capoeira. Estas foram mais interessantes pelo conteúdo filosófico por detrás destas artes marciais, como o confucionismo e budismo.

    A seguir, estudei as filosofias gregas e egípcias, passando para filósofos da Renascença e Iluminismo.

    Depois vieram alguns estudos relacionados a numerologia, astrologia, ufologia, a cabala, etc. Tive alguns contatos com o estudo de membros da Golden Down e da Maçonaria livre, além de outras que não me lembro. mas o que afastava destas era como se houvesse um desespero de "conquistar" novos membros e um orgulho e vaidades exaltadas dos que faziam parte, além de promessas sobre obter um conhecimento acima da média das pessoas...

    Ai eu parava e sorria gentilmente, pensando apenas comigo: "- Se essas pessoas soubessem que desde os 12 anos eu monto amplificadores e conserto rádios e televisores com o meu pai, monto os meus circuitos eletrônicos, transmito a minha voz para o televisor do vizinho... de que conhecimento 'acima da média' ele está falando?".




    Um dia eu soube de uma Ordem Mística, que por sinal não fazia a mínima ideia de que existia, e as poucas pessoas que a conheciam não deram muita atenção ao meu interesse, foi a única que apresentou um conteúdo livre de dogmas ou credos (embora 90% dos membros não consigam viver sem isto), alias parece que ninguém consegue viver sem se apegar a alguma coisa.

    O que a grande maioria não entende é que muitos símbolos foram criados pelo ser humano para apenas representar um princípio ou lei da natureza, para evitar o uso de muitas palavras, até porque há muitos séculos a escrita não era do domínio de todos, poucos sabiam ler e escrever, além de não haver tanto papel e caneta à disposição como hoje.

    Economizar palavras era a melhor solução. Um simples exemplo pode ser dado por um texto bem conhecido: E=mc². Experimente descrever isto em palavras (você vai escrever muito) mas só de olhar você já sabe quem está por trás e sobre do que se trata. A matemática é repleta de símbolos e eu ainda não vi nenhuma igreja de matemáticos por aí...




    Você ainda realmente acredita que um símbolo necessariamente tem que ser algo de natureza religiosa ou sectária?

    A respeito do simbolismo, eu preparei um trabalho dedicado a isto (aqui).

    Uma coisa é certa, eu ouvi e aprendi muita coisa interessante, mas também ouvi e assisti a muitas coisas que não fazem sentido nenhum, no sentido de somar algo de bom e prático à vida pessoal

    Percebi que muitas diferenças eram apenas a mesma coisa contada de outra maneira. Fiquei triste por ver tanta gente perdida procurando soluções através de métodos fáceis como amuletos, unguentos e orações que devem ser decoradas sem nenhum sentido lógico.




    Mas encontrei exemplos maravilhosos de aplicação prática através da obra de varias ordens religiosas. Princípios do hinduísmo, budismo e do confucionismo me ajudaram a harmonizar e disciplinar a minha busca, através da meditação, graças a ao meu Mestre de Wushu estilo Shaolin Quan.

    Comecei a treinar o Wushu por conta própria, até um dia conhecer um jovem que foi criado por um chinês e treinava o Wushu desde criança, ele já era faixa preta a alguns anos e não estava conseguindo encontrar um lugar para treinar e ensinar, pois todos só queriam saber de karatê.

    Convidei para treinar no quintal da casa em que morava, que era bem amplo. E foi lá que recebi valiosas lições sobre filosofia, natureza, mente e disciplina.

    É interessante que quando há alguma coisa muito especial na tua vida, você nunca esquece, vou reproduzir um diálogo dentre muitos que tive com o meu Mestre. Talvez isto lhe dê uma ideia de como foi evoluindo a minha forma de pensar...




          Mestre: Olhe para o mundo em que você vê, cheio de seres mas a dor que tem... dor de muitos!

          Eu: Muitos?

          Mestre: Muitos. mas aquilo que você vê, que eu vejo, é o mundo de cada um. O mundo que você vive é misterioso, exitante, desconhecido e o meu é mais velho, familiar e calmo. Você nunca conhecerá o meu mundo, ou eu, o teu.

          Eu: Nunca?

          Mestre: Pode você ver com os meus olhos? Pode você pensar com o meu cérebro?

          Eu: Mas mestre, o Sr. é uno com o Universo e eu também sou...

          Mestre: Nós somos um, ainda assim não somos iguais. dez milhões de coisas vivas tem mundos diferentes. Não veja a si mesmo como o centro do Universo: esperto, bom e bonito. Procure o contrário: sabedoria, bondade e beleza e que você possa encontrar em qualquer lugar.

          Eu: E se o que vejo não se enquadra na sabedoria na bondade e na beleza? Eu vejo assaltos, brigas e maldade...

          Mestre: Onde está o mal? no rato que fez a natureza um selvagem e sedento ou no gato que fez a natureza matar o rato? 

          EuO rato rouba, mas para ele o gato é mau.

          MestreE para o gato, o rato é mau.

          Eu: Então o mundo deve ser mau Mestre?

          Mestre: O rato não rouba, o gato não mata, a chuva cai, o córrego desliza, a montanha permanece... cada um age de acordo com a sua natureza.

          Eu: Então não há mal para os homens? Cada um diz a si mesmo que aquilo que faz é bom?

          Mestre: O homem pode dizer a si mesmo muitas coisas, mas o Universo do homem é composto só dele. Se alguém me magoa e é acolhido por mim, talvez não volte a magoar um outro...

          Eu: Mestre e se o Sr. não fizer nada?...

          Mestre: Poderá agir como quiser... Talvez, ou quem sabe, não o ferindo o homem perceba na alegria, e devolve em bondade...

          Eu: Mas Mestre, assim fica difícil saber se devo ou não agir, ás vezes parece ser melhor não fazer nada...

          Mestre: Veja esta teia de aranha na árvore. Esta é feita de fios e cera, com os fios debaixo de uma pata e a determinação para destruir. No entanto, para a aranha é um esconderijo seguro.

          Eu: Veja Mestre, a mosca caiu na teia! É cruel vê-la presa...

          Mestre: Você ainda não vê? Quem é o prisioneiro? A mosca que estava livre e encontrou o perigo, ou a aranha que teceu a rede e fica sempre ali sem poder ou sem enfrentar perigos? Como você deseja agir? Como uma mosca ou como uma aranha?

    Como podem perceber, a minha vida era uma busca constante sobre a minha relação com o Universo. Eu sei que pode até parecer uma coisa de louco, mas eu não estava convencido de que vim a este mundo apenas devido a uma combinação genética. Tinha que ter alguma coisa mais. Alguma coisa real e não apenas uma questão de fé.




    Meu Mestre de Wushu ensinou-me uma técnica simples para aprender a relaxar o corpo e a mente para meditar. Disse que eu pegasse uma vela acesa e a colocasse um pouco mais a minha frente, de forma que eu a pudesse vê-la de forma confortável.

    Escolhesse um horário à noite (por ser mais calmo e clima mais ameno), e no meu quarto, com as luzes apagadas, relaxasse e focasse a minha visão na chama da vela.

    Quando tudo o que estava em volta desaparecesse do meu campo de visão e ficasse apenas a chama da vela na minha consciência eu estaria preparado para começar a meditar, pois a minha mente estaria vazia de pensamentos, e a chama da vela eu deveria vê-la como a luz do meu EU, do ser verdadeiro que eu sou, de forma que eu deixasse de sentir a mim mesmo como um ser isolado e sim, uno ao todo.




    Como todo experimento simples, este não é nada fácil de se fazer. São muitas tentativas, muita paciência e foco, pois a vontade de desistir é muito forte. E essa vontade de ceder, é fruto dos conflitos que existem na nossa própria mente, semeados pelos nossos próprios pensamentos.

    Hoje eu sei disto, mas foi com o tempo que as respostas começaram a fluir na minha mente. Tempo este que varia de pessoa para pessoa, não há atalhos para encontra-se consigo mesmo. Cada pessoa se perde de si mesma através do que se pensa, e do mesmo modo consegue se reencontrar. Tudo no Universo é simples, o caos existe apenas na mente atribulada do ser humano.




    Não importa a tua crença, a tua raça, a tua cor nem as tuas origens. A tua luz brilha tanto quanto a minha, é tão importante quanto a minha e é tão simples e tão poderosa quanto a minha.




    Mas cabe a você deixar ou não, o teu ser embaçar a inexorável trajetória e destino natural da tua luz, do mesmo modo respeite o tempo de cada um.




    Cada um tem um lugar no Universo para iluminar, não retenha ninguém por egoísmo ou inveja. Fazendo isto você apenas estará ofuscando cada vez mais a tua luz e distanciando os benefícios das luzes que você retém perto de si mesmo




    O mundo é do jeito que é, pois este é pensado. A paz mundial se alcança com a paz individual. O poder das orações estão nas intenções, não no orar em si. O verbo mesmo que não pronunciado, pode ser mais forte e mais alto que muitos gritos, simplesmente porque foi pensado.

    Como dizia o meu Mestre: "- Quando a palavra vale menos que o silêncio, é melhor ficar em silêncio.




    Tudo isto é apenas um exemplo de misticismo.

    Tenha uma Paz Profunda!  

    (postagem anterior) (Continuação)